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Resumo curto
Na Conservatória Geral do Registo Civil, um edifício antigo onde se arquivavam registos de nascimentos e óbitos, trabalhava o Sr. José. Certa noite, quando ele copiava secretamente verbetes de famosos para sua coleção pessoal, encontrou por acaso o registo de uma mulher desconhecida.
Intrigado, o Sr. José começou a investigar obsessivamente a vida dessa mulher. Descobriu que ela era uma professora de matemática, divorciada e solitária, com um passado triste.
Na investigação, visitou o prédio onde ela crescera e conheceu uma idosa, madrinha dela, que lhe deu uma fotografia e informações que o levaram à escola onde estudara. O Sr. José invadiu o colégio à noite em busca de documentos antigos e adoeceu, o que chamou a atenção do rigoroso conservador da instituição.
Ao descobrir que a mulher havia se suicidado, ele foi ao cemitério onde ela estava enterrada no talhão dos suicidas. Lá descobriu um pastor que misturava os números das sepulturas para garantir o anonimato dos mortos. Após participar do engano, o Sr. José conheceu os pais da mulher, obtendo através da mãe as chaves do apartamento da filha falecida.
Ao visitar a casa, sentiu-se profundamente comovido ao ouvir a voz da mulher na gravação do telefone. Sua investigação foi descoberta pelo conservador, que surpreendentemente apoiou sua dedicação e sugeriu-lhe um ato inusitado:
Sabe qual é a única conclusão lógica de tudo o que sucedeu até este momento... Fazer para esta mulher um verbete novo, igual ao antigo, com todos os dados certos, mas sem a data do falecimento, E depois, Depois colocá-lo no ficheiro dos vivos.
O Sr. José voltou ao arquivo para destruir o certificado de óbito, permitindo que, nos registos da Conservatória, a mulher permanecesse simbolicamente entre os vivos.
Resumo detalhado
A divisão em capítulos é editorial.
Introdução ao Sr. José e à Conservatória Geral
Na Conservatória Geral do Registo Civil, um edifício antigo com uma porta velha e cinco janelas esguias, trabalhava o Sr. José, um auxiliar de escrita. A Conservatória era um lugar onde se arquivavam todos os registos de nascimentos e óbitos, com uma organização hierárquica rígida: oito auxiliares de escrita na primeira linha, quatro oficiais atrás, dois subchefes e, finalmente, o conservador, também chamado de chefe. O trabalho era distribuído de modo que os auxiliares executassem a maior parte das tarefas, enquanto os superiores trabalhavam cada vez menos.
O Sr. José vivia numa pequena casa anexa à Conservatória, a única que restou após a demolição das casas dos funcionários devido a mudanças no ordenamento urbanístico. Antigamente, havia uma porta de comunicação entre sua casa e a Conservatória, mas esta foi condenada quando as outras casas foram demolidas. Mesmo assim, o Sr. José mantinha a chave, o que lhe permitiria entrar na Conservatória fora do horário de expediente, se quisesse.
A coleção de famosos e o verbete da mulher desconhecida
O Sr. José tinha um passatempo secreto: colecionava recortes de jornais e revistas sobre pessoas famosas. Ele guardava meticulosamente notícias, entrevistas e fotografias de celebridades em pastas organizadas. Um dia, decidiu complementar sua coleção com informações oficiais dos arquivos da Conservatória. Para isso, usou a porta de comunicação para entrar secretamente à noite e copiar os verbetes de nascimento das cem pessoas mais famosas de sua coleção.
Durante uma dessas incursões noturnas, ao retirar cinco verbetes de pessoas famosas, um sexto verbete veio acidentalmente junto. Era o registro de uma mulher desconhecida, de trinta e seis anos, com averbamentos de casamento e divórcio. Ao contrário das celebridades que colecionava, esta era uma pessoa comum, sem fama. Inexplicavelmente, o Sr. José sentiu-se atraído por este verbete e decidiu copiar também os dados desta mulher.
Conheces o nome que te deram, não conheces o nome que tens. Livro das Evidências.
O início da investigação e a obsessão do Sr. José
Após copiar o verbete, o Sr. José foi tomado por uma obsessão inexplicável de encontrar aquela mulher desconhecida. Decidiu iniciar uma investigação, começando pela última morada registrada no verbete. Criou uma falsa credencial, assinada com o nome do conservador, que lhe dava poderes para investigar a vida da mulher. Armado com este documento, dirigiu-se ao prédio onde ela havia morado.
No prédio, descobriu que a família já não morava lá. Conversou com uma jovem moradora que lhe disse não conhecer os antigos inquilinos. Decidiu então falar com outros moradores e acabou batendo à porta do rés-do-chão direito. Ali encontrou uma senhora idosa que, para sua surpresa, revelou ser a madrinha de batismo da mulher que procurava. A senhora informou que a família havia se mudado há cerca de trinta anos e que perdera contato com eles, exceto por uma carta que recebera da afilhada logo após a mudança.
A senhora do rés-do-chão direito sugeriu ao Sr. José que procurasse na lista telefônica, mas ele preferiu seguir outro caminho. Ela então lhe deu a direção da escola onde a menina havia estudado e lhe entregou uma fotografia dela criança. O Sr. José ficou comovido com a imagem da menina de olhos sérios e franja sobre as sobrancelhas. Sua obsessão pela busca aumentou ainda mais.
A visita à senhora do rés-do-chão direito
Durante a visita à senhora do rés-do-chão direito, o Sr. José descobriu mais do que esperava. A conversa inicialmente formal tornou-se íntima quando a senhora revelou ter tido um caso amoroso com o pai da mulher desconhecida. Foi por causa desse relacionamento que a família se mudou. A senhora explicou ao Sr. José sua visão sobre os casamentos e relacionamentos, dizendo que em um casamento existem três pessoas: o homem, a mulher e o casal que formam juntos.
Em geral as pessoas não conseguem ser justas, nem consigo mesmas, nem com os outros, portanto o mais certo seria ele contar-me o caso de modo a ficar com a razão toda, Inteligente análise, sim senhor, Não sou estúpido.
A senhora mostrou-se solitária e grata pela companhia do Sr. José, convidando-o a visitá-la novamente. Ao despedir-se, ela beijou-lhe a mão, um gesto que o comoveu profundamente. O Sr. José saiu dali com a determinação renovada de continuar sua busca, agora com a direção da escola e a fotografia da menina como novas pistas. A senhora havia se tornado sua aliada nesta investigação, oferecendo não apenas informações, mas também uma conexão humana que o solitário auxiliar de escrita raramente experimentava.
A invasão noturna ao colégio
Determinado a encontrar mais informações sobre a mulher desconhecida, o Sr. José decidiu invadir o colégio onde ela havia estudado. Numa noite chuvosa, escalou um telheiro, quebrou uma vidraça usando banha de porco e uma toalha para abafar o ruído, e entrou no edifício. Apesar do medo e das dificuldades, explorou o colégio às escuras, procurando a secretaria onde estariam guardados os registros dos alunos.
Após encontrar a secretaria, descobriu que os verbetes dos alunos atuais estavam organizados em gavetas, mas não havia registros dos antigos estudantes. Continuou sua busca até encontrar uma porta estreita que levava a uma escada em caracol. Subindo com dificuldade, chegou a um sótão empoeirado onde estavam armazenados os arquivos antigos. Ali, entre caixas e papéis cobertos de pó, o Sr. José passou horas procurando os verbetes escolares da mulher desconhecida.
Finalmente, encontrou treze verbetes com fotografias dela em diferentes idades, desde criança até adolescente. Exausto, molhado e sujo, o Sr. José dormiu no sofá do gabinete do diretor e saiu na manhã seguinte, levando consigo os preciosos documentos. Esta invasão noturna deixou marcas: além dos joelhos esfolados, o Sr. José contraiu uma forte gripe que o obrigaria a faltar ao trabalho nos dias seguintes.
A doença do Sr. José e a nova atitude do conservador
A gripe contraída durante a invasão ao colégio deixou o Sr. José acamado por vários dias. Para sua surpresa, o conservador demonstrou uma preocupação incomum com seu estado de saúde, enviando-lhe comprimidos e até mesmo visitando-o em casa. Este comportamento era completamente atípico, pois o chefe sempre fora conhecido por sua frieza e distanciamento.
Durante sua convalescença, o Sr. José recebeu a visita de um enfermeiro enviado pelo conservador, que não apenas lhe aplicava injeções, mas também lhe trazia comida. O enfermeiro, observador e perspicaz, notou os ferimentos nos joelhos do Sr. José e comentou que faria um relatório sobre isso. Ele também revelou que os conservadores sempre coletavam informações sobre seus subordinados, o que deixou o Sr. José apreensivo.
Ao retornar ao trabalho, o Sr. José descobriu que o verbete da mulher desconhecida havia desaparecido do ficheiro dos vivos. Isso só poderia significar uma coisa: ela havia morrido. Abalado com a descoberta, decidiu entrar novamente na Conservatória durante a noite para procurar o processo dela no arquivo dos mortos. Usando o fio de Ariadne para não se perder, enfrentou o medo e a escuridão até encontrar os documentos que confirmavam seu falecimento.
A visita ao cemitério e o pastor de ovelhas
Determinado a seguir sua investigação até o fim, o Sr. José decidiu visitar o Cemitério Geral, que tinha uma estrutura administrativa semelhante à da Conservatória. Lá, descobriu que a mulher desconhecida havia se suicidado e estava enterrada no talhão dos suicidas. Um funcionário do cemitério forneceu-lhe um mapa para localizar a sepultura e comentou que, para ter certeza de que alguém esteve vivo, às vezes é preciso confirmar que está morto.
Se é certo, como é minha convicção, que as pessoas se suicidam porque não querem ser encontradas, estas aqui, graças ao que chamou a malícia do pastor de ovelhas, ficaram definitivamente livres de importunações.
O Sr. José caminhou por horas através do imenso cemitério até chegar ao talhão dos suicidas, uma área arborizada e tranquila. Decidiu passar a noite ali, dormindo sob uma oliveira próxima à sepultura da mulher. Ao amanhecer, encontrou um pastor de ovelhas que apascentava seu rebanho entre os túmulos. O pastor revelou-lhe um segredo perturbador: ele trocava os números das sepulturas antes que as lápides com os nomes fossem colocadas, de modo que ninguém pudesse realmente saber onde cada pessoa estava enterrada.
O pastor explicou que fazia isso para proteger definitivamente aqueles que não queriam ser encontrados. Perturbado mas fascinado por esta revelação, o Sr. José decidiu participar deste jogo de ocultação: quando o pastor se afastou, trocou o número da sepultura da mulher desconhecida com o de um enterro recente, contribuindo assim para a confusão dos registros e para o anonimato final daquela que procurava.
O encontro com os pais da mulher desconhecida
De volta à cidade, o Sr. José decidiu procurar os pais da mulher desconhecida. Consultou a lista telefônica e encontrou o endereço do pai. Redigiu uma nova credencial falsa, desta vez mencionando especificamente o suicídio, e foi visitá-los. O casal recebeu-o em uma casa sombria, com móveis pesados e quadros escuros nas paredes.
Durante a conversa, o Sr. José descobriu que a mulher havia sido professora de matemática no mesmo colégio onde estudara, que se suicidara com uma overdose de comprimidos para dormir e que sempre fora uma pessoa triste. O pai mostrou-se reservado e autoritário, recusando-se a permitir que o Sr. José visitasse a casa da filha. Porém, ao despedir-se, a mãe secretamente entregou-lhe as chaves do apartamento e sussurrou o endereço.
A visita à casa da mulher desconhecida
No dia seguinte, o Sr. José faltou ao trabalho para visitar o apartamento da mulher desconhecida. Primeiro, foi ao colégio onde ela havia lecionado e confirmou com o diretor que ela era uma excelente professora de matemática, discreta e estimada pelos alunos. O diretor mencionou que, pouco antes do suicídio, houve um estranho incidente: alguém invadira o colégio durante a noite, dormira em seu sofá, mas não levara nada. O Sr. José disfarçou seu nervosismo e saiu rapidamente.
Depois, dirigiu-se ao apartamento da mulher. Era um lugar simples, com móveis de linhas claras, muito diferente da casa pesada dos pais. O Sr. José percorreu os cômodos lentamente, observando os vestidos no guarda-roupa, os livros na estante, os papéis na secretária. Não procurou por cartas ou diários que explicassem o suicídio; sentiu que isso seria uma invasão desnecessária da privacidade dela.
Nada no mundo tem sentido, murmurou o Sr. José, e pôs-se a caminho da rua onde mora a senhora do rés-do-chão direito. A tarde está no fim, a Conservatória Geral já fechou, não são muitas as horas que restam ao auxiliar de escrita.
Enquanto estava no apartamento, o telefone tocou e o atendedor automático reproduziu a voz da mulher: "Não estou em casa, deixe o recado depois de ouvir o sinal". Ouvir aquela voz grave e velada comoveu profundamente o Sr. José, que sentiu como se ela estivesse ali, presente de alguma forma. Ao sair, decidiu visitar a senhora do rés-do-chão direito para contar-lhe o que havia descoberto, mas ao chegar lá, soube que ela havia sido levada de ambulância dias antes.
A conclusão e a decisão do conservador
Ao retornar à sua casa, o Sr. José encontrou o conservador sentado à sua mesa, com todos os documentos de sua investigação espalhados: as credenciais falsas, os verbetes escolares, o caderno de apontamentos. Para sua surpresa, o conservador não o repreendeu. Em vez disso, revelou que havia acompanhado suas atividades e que estava prestes a tornar-se cúmplice de suas ações irregulares.
No processo da sua mulher desconhecida falta o certificado do óbito... Enquanto não o encontrar essa mulher estará morta, Estará morta mesmo que o encontre, A não ser que o destrua, disse o conservador.
O conservador explicou que havia decidido unificar os arquivos dos vivos e dos mortos na Conservatória, acabando com a separação tradicional. Sugeriu ao Sr. José que criasse um novo verbete para a mulher desconhecida, sem a data de falecimento, e o colocasse no ficheiro dos vivos. Depois, entregou-lhe a lanterna e o fio de Ariadne para que ele pudesse voltar ao arquivo dos mortos e encontrar o certificado de óbito para destruí-lo, permitindo assim que a mulher desconhecida continuasse, de certa forma, viva nos registros.