saramago/as-intermitencias-da-morte

Fonte: Wikisum
Aviso: Este resumo foi gerado por IA, portanto pode conter erros.
💀
As Intermitências da Morte
2005
Resumo do romance
O original lê-se em ~394 min
Microresumo
No país ninguém morreu durante sete meses. Retornando, a morte previa mortes por carta, mas apaixonou-se por um violoncelista solitário e decidiu salvá-lo, voltando assim a cessar suas atividades.

Resumo curto

Em um país não identificado, à meia-noite de um 31 de dezembro, a morte repentinamente parou. Durante sete meses, ninguém morreu. A ausência da morte provocou euforia e confusão na sociedade, levando instituições como hospitais, funerárias e seguradoras ao caos, enquanto doentes terminais se acumulavam, sem melhora ou óbito. O governo, buscando soluções pragmáticas, chegou a negociar secretamente com uma organização criminosa que levava doentes para morrerem cruzando as fronteiras do país.

💀
A morte — personagem feminina que decide parar de matar e depois retorna como mulher de 36 anos, bonita, veste-se com elegância, possui uma gadanha, vive numa sala fria subterrânea, determinada, poderosa, eventualmente sensível.

Subitamente, após sete meses, a morte anunciou seu retorno através de uma carta à televisão nacional. Passou então a avisar as pessoas com uma semana de antecedência sobre seus óbitos futuros por cartas violetas enviadas pelo correio, causando grande angústia na população.

Inesperadamente, uma das cartas da morte foi devolvida sucessivas vezes, destinada a um violoncelista de cinquenta anos que misteriosamente escapava da morte predeterminada. Intrigada, a morte visitou-o secretamente e sentiu-se profundamente tocada pela sensibilidade e modéstia daquele homem, que morava sozinho com seu cão e tocava com paixão.

🎻
O violoncelista — homem de 50 anos, músico principal de orquestra, solitário, vive com um cão, sensível, modesto, apaixona-se pela morte quando ela aparece como mulher, cabelos grisalhos, mãos fortes.

Decidida a entender a peculiar situação, a morte assumiu forma humana, tornando-se uma bela mulher jovem. Ao encontrar o violoncelista pessoalmente, ela apaixonou-se por ele. Após uma noite em sua companhia, optou por queimar a carta que decretava sua morte, permitindo-lhe viver.

A morte voltou para a cama, abraçou-se ao homem e, sem compreender o que lhe estava a suceder, ela que nunca dormia, sentiu que o sono lhe fazia descair suavemente as pálpebras. No dia seguinte ninguém morreu.

Resumo detalhado

A divisão em seções é editorial.

A interrupção da morte e a reação inicial da sociedade

Em um país não identificado, um fenômeno extraordinário ocorreu à meia-noite do dia 31 de dezembro: ninguém morreu. No dia seguinte, o fato inusitado começou a ser notado quando pessoas à beira da morte, incluindo a rainha-mãe, permaneceram vivas apesar de seu estado terminal. A notícia espalhou-se rapidamente pelos meios de comunicação, gerando uma mistura de perplexidade e euforia na população.

👵
A Rainha-Mãe — mulher muito idosa, membro da família real, primeira pessoa a não morrer quando deveria, permanece em estado de vida suspensa, acamada, frágil, sem diálogos.

No dia seguinte ninguém morreu. O facto, por absolutamente contrário às normas da vida, causou nos espíritos uma perturbação enorme, efeito em todos os aspectos justificado, basta que nos lembremos de que não havia notícia...

O governo, liderado pelo primeiro-ministro, tentou administrar a situação com cautela, emitindo um comunicado oficial que pedia calma à população. Enquanto isso, o cardeal da igreja católica expressou sua preocupação ao primeiro-ministro, alertando que sem morte não haveria ressurreição e, consequentemente, não haveria igreja. Essa conversa revelou as primeiras implicações teológicas da ausência da morte.

👨‍💼
Primeiro-Ministro — homem de meia-idade, líder do governo, pragmático, calculista, preocupado com a imagem pública, habilidoso em lidar com crises, mantém relações com a máphia, sangue-frio diante das situações.
👨‍🦳
O Cardeal — homem idoso, líder religioso católico, preocupado com as implicações teológicas da ausência da morte, conservador, sofre um ataque de apendicite durante a crise.

Sem morte, ouça-me bem, senhor director-geral da televisão nacional, sem morte não há ressurreição, e sem ressurreição não há igreja, O diabo, Não percebi o que acaba de dizer, repita, por favor.

A crise das instituições: funerárias, hospitais e lares

A ausência da morte logo provocou uma crise sem precedentes em diversas instituições. As agências funerárias foram as primeiras a sentir o impacto, vendo-se subitamente privadas de sua matéria-prima. Em uma assembleia geral da classe, elaboraram um documento solicitando ao governo que tornasse obrigatório o enterro ou incineração de animais domésticos falecidos, como forma de manter seus negócios funcionando.

Os hospitais também enfrentaram sérios problemas. Com pacientes terminais que não morriam, mas tampouco melhoravam, as instalações ficaram superlotadas. A situação levou o ministério da saúde a emitir um despacho recomendando que os doentes em estado terminal fossem devolvidos às suas famílias, aliviando assim a pressão sobre o sistema hospitalar.

Os lares para idosos, por sua vez, viram-se diante de um dilema ainda mais complexo. A rotatividade de residentes, antes garantida pela morte, cessou completamente. Em um memorando enviado ao governo, os administradores desses estabelecimentos expressaram seu desespero, prevendo um futuro sombrio em que os idosos continuariam a envelhecer indefinidamente sem nunca morrer, exigindo cuidados cada vez mais intensivos.

Antes a morte, senhor primeiro-ministro, antes a morte que tal sorte. [...] Que irá fazer o estado se nunca mais ninguém morrer, O estado tentará sobreviver, ainda que eu muito duvide de que o venha a conseguir.

As companhias de seguros também se viram em apuros quando os segurados começaram a cancelar suas apólices de seguro de vida, argumentando que não fazia sentido continuar pagando por um serviço que nunca seria utilizado. Para contornar a situação, propuseram um acordo estabelecendo a idade de oitenta anos como morte figurada, momento em que pagariam o valor integral do seguro.

A máphia e a solução fronteiriça

Em meio à crise, uma solução inesperada surgiu quando uma família de agricultores, desesperada com o sofrimento de um avô e um bebê em estado terminal, decidiu levá-los para além da fronteira do país. Descobriram que, ao cruzar a linha divisória, os moribundos finalmente morriam, pois nos países vizinhos a morte continuava a operar normalmente. Este método logo se espalhou, com outras famílias seguindo o exemplo.

Percebendo a oportunidade de negócio, uma organização criminosa autodenominada 'máphia' (com ph para distinguir-se da máfia tradicional) assumiu o controle desse tráfico de moribundos. A máphia estabeleceu uma rede eficiente para transportar os doentes terminais até a fronteira, cobrando altas somas das famílias desesperadas para realizar o serviço.

O governo, pressionado pela situação cada vez mais insustentável, acabou negociando secretamente com a máphia. O ministro do interior, seguindo orientações do primeiro-ministro, estabeleceu um acordo de cavalheiros com a organização criminosa. Os vigilantes posicionados pelo governo para monitorar o tráfico de moribundos seriam 'desativados', permitindo que a máphia operasse livremente, desde que com discrição.

🕴️
Ministro do Interior — homem de meia-idade, membro do governo, responsável pela segurança interna, negocia com a máphia, obediente ao primeiro-ministro, pragmático, preocupado com a ordem pública.

A situação complicou-se quando os países vizinhos, irritados com a constante invasão de seus territórios por 'comandos de enterradores', posicionaram tropas nas fronteiras. A máphia, adaptando-se rapidamente, desenvolveu uma nova estratégia: levar os moribundos apenas até a fronteira para que morressem ao cruzá-la, e depois trazê-los de volta para serem enterrados em seu próprio país.

Enquanto isso, um debate filosófico surgiu quando um aprendiz de filósofo, inspirado por um espírito que pairava sobre a água de seu aquário, propôs que existiam diferentes tipos de morte para diferentes seres vivos. Esta discussão levantou questões sobre a natureza da morte e sua hierarquia, sugerindo que apenas a morte dos humanos havia sido suspensa, enquanto as mortes de animais e plantas continuavam a operar normalmente.

Já pensaste se a morte será a mesma para todos os seres vivos, sejam eles animais, incluindo o ser humano, ou vegetais... será a mesma a morte que mata um homem que sabe que vai morrer, e um cavalo que nunca o saberá.

As mortes de cada um são mortes por assim dizer de vida limitada, subalternas, morrem com aquele a quem mataram, mas acima delas haverá outra morte maior, aquela que se ocupa do conjunto dos seres humanos desde o alvorecer da espécie.

O retorno da morte e seu novo método de operação

Após sete meses de ausência, a morte decidiu retornar. Ela enviou uma carta ao diretor-geral da televisão nacional, anunciando que a partir da meia-noite daquele mesmo dia, as pessoas voltariam a morrer. No entanto, introduziu uma mudança significativa em seu método de operação: a partir daquele momento, todos receberiam um aviso prévio de uma semana antes de morrer, permitindo-lhes colocar seus assuntos em ordem.

📺
Diretor-Geral da Televisão — homem de meia-idade, executivo de mídia, nervoso, recebe a primeira carta da morte, serve como intermediário entre a morte e a população, obediente às ordens do primeiro-ministro.

A partir de agora toda a gente passará a ser prevenida por igual e terá um prazo de uma semana para pôr em ordem o que ainda lhe resta de vida, fazer testamento e dizer adeus à família, pedindo perdão pelo mal feito...

A notícia causou um impacto imenso. Naquela mesma noite, à meia-noite, mais de sessenta e dois mil pessoas que estavam em estado terminal morreram simultaneamente, criando uma situação caótica para as agências funerárias e cemitérios. O governo teve que organizar rapidamente um sistema para lidar com tantos óbitos de uma só vez, utilizando a bandeira nacional hasteada nas janelas como sinal de que havia um morto naquela residência.

A morte, que vivia em uma sala fria subterrânea com sua gadanha encostada na parede, começou a enviar cartas de cor violeta para notificar as pessoas sobre sua morte iminente. Estas cartas chegavam pelo correio normal, causando terror e desespero entre os destinatários. Alguns tentavam suicidar-se para escapar do prazo, outros entregavam-se a excessos de todos os tipos em seus últimos dias.

🪓
A gadanha — instrumento da morte, personificada, velha e enferrujada, encostada na parede branca, silenciosa durante a maior parte da narrativa, mas eventualmente fala com a morte.

Um jornal publicou a carta da morte com a inicial do seu nome em maiúscula, o que provocou uma resposta irritada da própria morte, que insistiu que seu nome deveria ser escrito com inicial minúscula. Ela explicou que não era a Morte com M maiúsculo, mas simplesmente morte, uma entidade menor que apenas se ocupava dos seres humanos, enquanto a verdadeira Morte seria algo muito além da compreensão humana.

Eu não sou a Morte, sou simplesmente morte, a Morte é uma cousa que aos senhores nem por sombras lhes pode passar pela cabeça o que seja, vossemecês, os seres humanos, só conhecem esta pequena morte quotidiana que eu sou.

O interesse da morte pelo violoncelista

Um evento inesperado perturbou a rotina da morte: uma de suas cartas violetas foi devolvida três vezes consecutivas, sem chegar ao destinatário. Isso nunca havia acontecido antes. Intrigada e irritada, a morte consultou o verbete do destinatário e descobriu que se tratava de um violoncelista de 49 anos. Mais perturbador ainda, o homem já deveria ter morrido dias antes, mas continuava vivo e acabara de completar 50 anos.

Decidida a resolver o problema, a morte alterou o verbete do músico, mudando sua data de nascimento para um ano depois e sua idade de 50 para 49 anos. A gadanha, que normalmente permanecia em silêncio, advertiu-a de que isso teria consequências, mas a morte estava determinada a não falhar. Ela elaborou um plano para encontrar e eliminar o violoncelista que havia escapado de seu destino.

A morte decidiu ir pessoalmente à casa do violoncelista para investigar. Despindo-se de sua mortalha e transformando-se em uma espécie de neblina invisível, ela visitou o apartamento do músico durante a noite. Lá encontrou um homem solitário que vivia apenas com seu cão. Observou-o enquanto dormia e notou que ele mantinha a mão esquerda sobre o coração enquanto descansava.

🐕
O cão — animal de estimação do violoncelista, preto, de tamanho médio, leal, sensível, inteligente, capaz de compreender situações complexas, disciplinado, dorme no regaço da morte.

Durante sua visita, a morte viu um caderno de música aberto na sala - a Suite nº 6 em Ré Maior de Johann Sebastian Bach. Algo naquela música e na simplicidade da vida do violoncelista a tocou profundamente. Ela observou quando o homem acordou durante a noite para beber água e quando seu cão o seguiu fielmente. Pela primeira vez em sua existência, a morte experimentou uma emoção semelhante à compaixão, chegando até mesmo a sentir o cão deitado em seu regaço enquanto observava o músico.

A morte se torna humana e seu relacionamento com o violoncelista

Após sua visita à casa do violoncelista, a morte tomou uma decisão sem precedentes: transformar-se em uma mulher humana para conhecê-lo pessoalmente. Ela pediu à gadanha que a substituísse no envio das cartas durante uma semana e usou a misteriosa porta estreita de sua sala subterrânea para sair. Emergiu em uma rua da cidade como uma bela mulher de aproximadamente 36 anos, vestida com elegância e usando óculos escuros.

A morte, agora em forma humana, comprou ingressos para assistir ao concerto da orquestra onde o violoncelista tocava. Durante a apresentação, ela o observou atentamente de um camarote de primeira ordem. Quando o músico executou um solo, ela ficou profundamente emocionada com sua interpretação. Após o concerto, esperou-o na saída dos artistas e abordou-o, elogiando sua performance.

O violoncelista ficou intrigado com aquela mulher misteriosa que dizia ter estado no ensaio da orquestra, embora ele não a tivesse notado. Ela mencionou que tinha uma carta para entregar-lhe, mas não o fez. Depois de uma conversa tensa no táxi que os levou à casa dele, separaram-se sem que a carta fosse entregue. Mais tarde, ela telefonou-lhe, prolongando o mistério sobre sua identidade e sobre a carta.

A morte havia prometido comparecer ao próximo concerto do violoncelista, mas não apareceu, deixando-o desapontado. No dia seguinte, encontraram-se por acaso no parque onde ele costumava passear com seu cão aos domingos. Ela disse que estava ali para se despedir e que partiria naquele mesmo dia. O violoncelista, já apaixonado, confessou seus sentimentos, mas ela manteve-se distante, recusando-se até mesmo a apertar sua mão, alegando que suas mãos eram frias.

A morte olhava o violoncelista. Por princípio, não distingue entre gente feia e gente bonita, se calhar porque, não conhecendo de si mesma senão a caveira que é, tem a irresistível tendência de fazer aparecer a nossa...

A decisão final da morte

Naquela noite, contrariando sua própria decisão de partir, a morte apareceu na porta do violoncelista. Ele a convidou a entrar e, a pedido dela, tocou a Suite nº 6 de Bach em seu violoncelo. A interpretação foi extraordinária, como se o músico estivesse possuído pelo próprio compositor. Após a performance, as mãos da morte já não estavam frias, e eles se entregaram à paixão.

Enquanto o violoncelista dormia, a morte retirou de sua bolsa a carta violeta destinada a ele. Considerou por um momento onde deixá-la - sobre o piano, entre as cordas do violoncelo ou debaixo do travesseiro dele. Mas, em vez disso, foi até a cozinha, acendeu um fósforo e queimou a carta, algo que somente ela poderia fazer. Não restaram cinzas.

A morte voltou para a cama, abraçou o homem e, pela primeira vez em sua existência, sentiu o sono chegar. No dia seguinte, ninguém morreu no país. A morte havia feito algo sem precedentes: apaixonara-se por um mortal e, ao destruir sua carta, suspendeu novamente seu trabalho, permitindo que a vida continuasse sem interrupções.