orwell/1984
Resumo breve
Londres, 1984. Em um mundo dividido em três superestados totalitários, a Oceania era governada pelo Partido, que controlava todos os aspectos da vida através do Grande Irmão. Winston Smith trabalhava no Ministério da Verdade, alterando registros históricos para que correspondessem à versão oficial do Partido.
Insatisfeito com a opressão, Winston começou a escrever um diário secreto, um crime punível com morte. Ele conheceu Júlia, uma jovem rebelde, e os dois iniciaram um relacionamento clandestino, encontrando-se em um quarto alugado acima de uma loja de antiguidades.
Winston acreditava que O'Brien, um membro do Partido Interno, era secretamente um rebelde. O'Brien convidou Winston e Júlia para sua casa, onde lhes ofereceu a oportunidade de se juntarem à Fraternidade, uma organização secreta liderada por Emmanuel Goldstein para derrubar o Partido.
Pouco depois, Winston e Júlia foram capturados pela Polícia do Pensamento. O'Brien revelou-se um agente do Partido e torturou Winston no Ministério do Amor. Na Sala 101, onde cada prisioneiro enfrentava seu maior medo, Winston foi confrontado com ratos, seu terror absoluto.
Faze isso com Júlia! Faze com Júlia! Comigo não! Júlia! Não me importa o que faças a ela. Arranca-lhe a cara, desnuda-lhe os ossos. Não comigo! Com Júlia! Comigo não!
Ao trair Júlia para salvar a si mesmo, Winston foi finalmente quebrado. Libertado, ele encontrou Júlia, mas ambos haviam mudado. No Café Castanheira, Winston ouviu sobre uma vitória da Oceania e percebeu que amava o Grande Irmão. Sua rebelião havia terminado, e o Partido triunfara completamente.
Resumo detalhado
Divisão em capítulos é editorial.
O mundo distópico de Winston Smith
Em um dia frio de abril de 1984, Winston Smith entrou na Mansão Vitória, seu prédio residencial em Londres, capital da Oceania. O saguão cheirava a repolho cozido e capacho velho. Em cada andar, um cartaz com o rosto do Grande Irmão e a inscrição "O GRANDE IRMÃO ZELA POR TI" observava os moradores. Winston subiu sete andares de escada, pois o elevador raramente funcionava devido à economia de energia para a Semana do Ódio.
Em seu apartamento, Winston diminuiu o volume da teletela, um aparelho que transmitia propaganda incessantemente e também monitorava os cidadãos. Pela janela, observou a paisagem desoladora de Londres, dominada pelos quatro ministérios do governo: o Ministério da Verdade, onde trabalhava; o Ministério da Paz, responsável pela guerra; o Ministério do Amor, encarregado da lei e da ordem; e o Ministério da Fartura, que administrava a economia. Na fachada do Ministério da Verdade, liam-se os lemas do Partido: "GUERRA É PAZ. LIBERDADE É ESCRAVIDÃO. IGNORÂNCIA É FORÇA."
Winston sentou-se em uma alcova fora do alcance da teletela e tirou de seu bolso um diário que havia comprado em uma loja de antiguidades no bairro dos proles. Escrever um diário era um ato de crimideia, punível com a morte. Mesmo assim, ele escreveu a data e começou a registrar suas memórias de um filme de guerra que assistira na noite anterior. Durante a escrita, lembrou-se dos Dois Minutos de Ódio, um ritual diário no qual os membros do Partido expressavam fúria contra Emmanuel Goldstein, o inimigo oficial do Estado. Nesse evento, Winston havia notado uma jovem de cabelos escuros do Departamento de Ficção e O'Brien, um membro do Partido Interno por quem sentia uma estranha conexão.
Os primeiros atos de rebelião
No dia seguinte, Winston foi interrompido pela Sra. Parsons, sua vizinha, que pediu ajuda com uma pia entupida. No apartamento dos Parsons, Winston encontrou um ambiente caótico, decorado com símbolos da Liga da Juventude e dos Espiões. Após consertar a pia, foi atacado pelos filhos dos Parsons, que o acusaram de ser um traidor e ideocriminoso. As crianças, fanáticas pelo Partido, estavam desapontadas por não poderem assistir ao enforcamento de prisioneiros eurasianos.
De volta ao seu apartamento, Winston continuou escrevendo em seu diário, refletindo sobre a dificuldade de lembrar-se do passado. Ele questionava se a vida sempre havia sido assim, dominada pelo Partido. Suas memórias da infância eram fragmentadas, e ele não conseguia determinar quando o Grande Irmão havia surgido ou quando a Oceania começara a guerra contra a Eurásia. O Partido afirmava ter inventado o aeroplano e outras tecnologias, o que Winston sabia ser mentira, mas não podia provar.
A mutabilidade do passado é o dogma central do Ingsoc. Argúe-se que os acontecimentos passados não têm existência objetiva, porém só sobrevivem em registros escritos e na memória humana. O passado é o que dizem os registros e as memórias.
No Ministério da Verdade, Winston trabalhava alterando documentos históricos para que correspondessem à versão atual dos fatos. Um dia, recebeu quatro mensagens ordenando "retificações" em edições passadas do Times. Uma delas referia-se a uma previsão incorreta do Grande Irmão sobre uma ofensiva eurasiana. Winston alterou os registros, fazendo parecer que a previsão havia sido correta, e depois destruiu as evidências originais no "buraco da memória", um incinerador.
Durante o almoço, Winston encontrou Syme, um especialista em Novilíngua, a língua oficial da Oceania. Syme explicou entusiasticamente como a nova língua estava sendo projetada para limitar o pensamento, eliminando palavras desnecessárias e tornando a crimideia impossível. Winston percebeu que Syme era inteligente demais e falava abertamente demais, o que provavelmente o levaria a ser vaporizado pelo Partido.
Parsons, outro colega, juntou-se a eles, exibindo seu entusiasmo cego pelo Partido e contando como seus filhos eram fervorosos membros dos Espiões. A teletela anunciou um aumento no padrão de vida, contradizendo a realidade de escassez que Winston observava. Ele notou que a moça do cabelo escuro do Departamento de Ficção o observava, causando-lhe apreensão.
Encontro com Júlia e o início do romance
Certo dia, Winston encontrou a moça do cabelo escuro no corredor do Ministério. Ela tropeçou e caiu, e quando ele a ajudou a se levantar, ela secretamente lhe passou um bilhete. Mais tarde, ao ler o bilhete, Winston descobriu que dizia apenas "Eu te amo". Surpreso e apreensivo, ele passou dias tentando encontrar uma oportunidade para falar com ela na cantina do Ministério.
Finalmente, conseguiram trocar algumas palavras e combinaram um encontro na Praça da Vitória. Lá, em meio a uma multidão assistindo à passagem de prisioneiros eurasianos, Júlia deu a Winston instruções precisas sobre como chegar a um local secreto no campo. Seguindo suas orientações, Winston viajou de trem até o ponto de encontro, uma clareira escondida em um bosque.
Na clareira, Júlia revelou que havia notado Winston há muito tempo e percebido sua aversão ao Partido. Ela confessou ter tido vários amantes, todos membros do Partido, o que agradou Winston, que via nisso um ato de rebelião. Eles fizeram amor, o que Winston considerou um ato político, um golpe contra o Partido que tentava suprimir o instinto sexual.
A liberdade é a liberdade de dizer que dois e dois são quatro. Admitindo-se isto, tudo o mais decorre.
Nos encontros subsequentes, Winston descobriu que Júlia tinha uma visão pragmática da vida e do Partido. Ela odiava o regime, mas não se interessava por doutrinas políticas. Seu objetivo era se divertir e evitar ser pega. Ela não acreditava na Fraternidade, uma suposta organização clandestina liderada por Goldstein, e considerava qualquer revolta organizada inútil. Júlia explicou que a repressão sexual do Partido era uma forma de canalizar a energia das pessoas para atividades partidárias e manter o controle sobre a população.
Winston contou a Júlia sobre seu casamento fracassado com Katharine, uma mulher completamente subserviente ao Partido, para quem o sexo era apenas um "dever ante o Partido" para a procriação. Eles discutiram a natureza da vitória e da derrota em um mundo onde o indivíduo está sempre fadado ao fracasso. Winston acreditava que a única vitória possível estava no futuro distante, após sua morte, enquanto Júlia preferia focar no presente e nas pequenas rebeliões cotidianas.
A vida secreta com Júlia
Winston decidiu alugar o quarto acima da loja de antiguidades do Sr. Charrington, onde ele havia comprado seu diário. O quarto não tinha teletela, oferecendo um raro espaço de privacidade. Júlia começou a trazer suprimentos do mercado negro, como café, açúcar e pão branco, luxos normalmente reservados ao Partido Interno. Em uma de suas visitas, ela surpreendeu Winston usando maquiagem, algo proibido para mulheres do Partido.
No quarto, havia um peso de papel de vidro com coral dentro, que Winston havia comprado na loja. Ele o considerava um pedaço da história que não havia sido alterado. Havia também uma gravura de uma igreja chamada S. Clemente dos Dinamarqueses, que evocou em Winston e Júlia memórias de uma antiga cantiga infantil: "Laranjas e limões, dizem os sinos de S. Clemente".
Enquanto isso, a cidade se preparava para a Semana do Ódio, um período de frenesi patriótico contra a Eurásia. Cartazes de um soldado eurasiano apareceram por toda Londres, e bombas-foguete matavam civis regularmente, incitando a raiva popular. Winston trabalhava horas extras alterando registros antigos para os discursos da Semana do Ódio.
Durante esse período, Winston notou que Syme havia desaparecido, apagado da existência pelo Partido. Ninguém mais o mencionava, e seu nome simplesmente sumiu das listas de comitês. Winston e Júlia sabiam que seu relacionamento não duraria, que eventualmente seriam descobertos, mas tentavam aproveitar o tempo que tinham juntos, criando um pequeno mundo particular no quarto alugado.
Se há esperança, escreveu Winston, está nos proles. Se esperança houvesse, devia estar nos proles, porque só neles, naquela massa desdenhada, formigante, 85% da população da Oceania, podia se gerar força suficiente para destruir o Partido.
OBrien e a Fraternidade
Um dia, no Ministério, O'Brien abordou Winston, elogiando um artigo que ele havia escrito. Durante a conversa, O'Brien mencionou um amigo perito em Novilíngua, que Winston suspeitou ser Syme, apesar de ele ter sido apagado da existência. O'Brien convidou Winston para ir à sua casa buscar a décima edição do Dicionário de Novilíngua, dando-lhe seu endereço, algo impossível de obter de outra forma.
Winston interpretou isso como um sinal de que O'Brien era membro da Fraternidade. Ele e Júlia foram ao luxuoso apartamento de O'Brien, onde ele desligou a teletela, um privilégio do Partido Interno. Winston declarou que eles eram inimigos do Partido, ideocriminosos e adúlteros, oferecendo-se à mercê de O'Brien. Este apresentou Martin, seu criado, que também fazia parte da conspiração, e serviu vinho, algo raro e associado ao passado.
O'Brien confirmou a existência de Goldstein e da Fraternidade, explicando que Winston e Júlia estavam sendo admitidos na organização. Ele os questionou sobre sua disposição para cometer atos extremos em nome da causa, incluindo assassinato, sabotagem e traição. Winston concordou com tudo, mas Júlia hesitou quando perguntada se estariam dispostos a se separar para sempre.
O'Brien prometeu enviar-lhes o livro de Goldstein, que revelaria a verdadeira natureza da sociedade e a estratégia para destruí-la. Ele advertiu que não haveria camaradagem, incentivo ou socorro, e que o resultado final seria a prisão, confissão e morte. O objetivo era expandir a zona de sanidade mental, um indivíduo de cada vez, com a esperança no futuro distante.
O livro de Goldstein e a captura
Após cinco dias de trabalho intenso no Ministério da Verdade, Winston finalmente teve a oportunidade de ler o livro de Goldstein, intitulado "Teoria e Prática do Coletivismo Oligárquico". O livro começava afirmando que a sociedade sempre foi dividida em três classes: Alta, Média e Baixa, cujos objetivos são irreconciliáveis.
O capítulo sobre a guerra explicava que os três superestados - Oceania, Eurásia e Lestásia - estavam em conflito permanente não para conquistar territórios, mas para consumir os produtos da máquina industrial, evitando a elevação do padrão de vida geral. A guerra também servia para manter a estrutura hierárquica da sociedade e o moral do Partido.
O essencial da guerra é a destruição, não necessariamente de vidas humanas, mas dos produtos do trabalho humano. A guerra é um meio de despedaçar... materiais que de outra forma teriam de ser usados para tornar as massas demasiado confortáveis e... inteligentes.
Enquanto Winston lia o livro para Júlia, que adormeceu durante a leitura, eles ouviram uma voz vinda de trás de um quadro: "Vocês estão mortos". A Polícia do Pensamento invadiu o quarto. O Sr. Charrington, agora sem o disfarce de idoso, revelou-se como um membro da Polícia do Pensamento. O peso de papel foi destruído, e Winston e Júlia foram capturados.
Prisão e tortura no Ministério do Amor
Winston foi levado para uma cela no Ministério do Amor, onde encontrou outros prisioneiros, incluindo Ampleforth, o poeta, e Parsons, que havia sido denunciado pela própria filha por falar contra o Grande Irmão durante o sono. Winston observou o terror dos prisioneiros quando eram levados para a misteriosa Sala 101.
Para sua surpresa, O'Brien apareceu, revelando-se como um agente do Partido que havia enganado Winston. Começou então um longo processo de tortura física e psicológica. O'Brien explicou que o objetivo do Ministério do Amor não era extrair confissões ou punir, mas "curar" Winston de sua insanidade, fazendo-o amar o Grande Irmão.
O Partido procura o poder por amor ao poder. Não estamos interessados no bem-estar alheio; só estamos interessados no poder. Nem na riqueza, nem no luxo, nem em longa vida de prazeres: apenas no poder, poder puro.
O'Brien mostrou a Winston uma fotografia que provava a inocência de Jones, Aaronson e Rutherford, antigos líderes da Revolução que haviam sido expurgados. Em seguida, destruiu a fotografia, afirmando que ela nunca existiu e que a realidade só existe na mente do Partido. Ele explicou o conceito de duplipensar, a capacidade de manter duas crenças contraditórias simultaneamente.
Duplipensar quer dizer a capacidade de guardar simultaneamente na cabeça duas crenças contraditórias, e aceitá-las ambas... pelo exercício do duplipensar ele se convence também de que a realidade não está sendo violada.
O'Brien torturou Winston, forçando-o a ver cinco dedos quando ele mostrava apenas quatro. Ele descreveu o mundo que o Partido estava criando: um mundo de medo, traição e tormento, onde o progresso seria medido pela capacidade de infligir dor. A imagem do futuro, segundo O'Brien, era uma bota pisando um rosto humano para sempre.
Se queres uma imagem do futuro, pensa numa bota pisando um rosto humano - para sempre.
Winston foi informado de que Júlia o havia traído imediatamente. O'Brien explicou que o Partido não se contentava com a obediência negativa, mas exigia a rendição completa da mente. Os inimigos do Partido precisavam ser convertidos antes de serem mortos.
Não nos contentamos com a obediência negativa, nem mesmo com a mais abjeta submissão. Quando finalmente te renderes a nós, deverá ser por tua livre e espontânea vontade. Não destruímos o herege porque nos resista; enquanto nos resiste, nunca o destruímos.
Sala 101 e a rendição final
Apesar de aceitar intelectualmente as doutrinas do Partido, Winston ainda mantinha em seu coração o ódio ao Grande Irmão. O'Brien percebeu isso e ordenou que ele fosse levado para a Sala 101, que continha "a pior coisa do mundo" para cada pessoa. Para Winston, eram ratos.
O'Brien mostrou a Winston uma gaiola com ratos famintos, ameaçando colocá-la em seu rosto. Em um momento de terror absoluto, Winston traiu Júlia, implorando que fizessem aquilo com ela em vez dele. Com esse ato final de traição, sua resistência foi quebrada.
Mais tarde, Winston foi libertado. Ele encontrou Júlia uma vez, e ambos admitiram ter traído um ao outro. Seus sentimentos haviam mudado, e eles não sentiam mais o mesmo um pelo outro. Winston passou a frequentar o Café Castanheira, bebendo gim e jogando xadrez. Durante um anúncio de vitória da Oceania sobre a Lestásia na África, Winston sentiu uma onda de amor pelo Grande Irmão. Sua transformação estava completa.
Levantou a vista para o rosto enorme. Levara quarenta anos para aprender que espécie de sorriso se ocultava sob o bigode negro... Mas agora estava tudo em paz, tudo ótimo, acabada a luta. Finalmente lograda a vitória sobre si mesmo. Amava o Grande Irmão.